Mapeando o AWE: quais são as dimensões desta experiência?

Mapeando o AWE: quais são as dimensões desta experiência?

12 de setembro de 2025

Nono artigo da série que explora o contexto das experiências não-ordinárias no Brasil e como elas impactam nossa população. Todos os dados foram coletados e relacionados a partir de estudos feitos pelo grupo de Neurociência das Crenças e Valores do Instituto D´or de Pesquisa e Ensino.

Autora: Yin Luo

O AWE é uma emoção fascinante que pode se manifestar de muitas formas. Às vezes, é profundamente inspirador — como estar à beira do Grand Canyon ou observar um céu cheio de estrelas. Outras vezes, o AWE vem acompanhado de um toque de medo, como ao presenciar uma tempestade com raios ou uma onda enorme quebrando.

Recentemente, pesquisadores começaram a mostrar que o AWE não está reservado apenas a eventos raros e extraordinários. As pessoas também sentem AWE em situações do dia a dia: ao ouvir música, ver uma criança dar seus primeiros passos ou ter uma conversa significativa.

MAS COMO REALMENTE SENTIMOS O AWE?

Ele se parece mais com o calor do amor ou com a tensão do medo? Nossas experiências cotidianas de assombro carregam tanto peso emocional quanto os momentos mais marcantes? E o AWE com tons de ameaça — o chamado “AWE ameaçador” — é fundamentalmente diferente do deslumbre inspirador?

Para explorar essas perguntas, pedimos que mais de 900 pessoas refletissem sobre suas memórias emocionais. Cada participante relembrou duas experiências: uma que se destacou como o momento mais memorável de AWE, amor ou medo em sua vida, e outra mais recente — e possivelmente mais comum.

Em seguida, perguntamos: quão intensa foi a emoção naquele momento? E ela foi positiva ou negativa?

O gráfico abaixo mostra o que as pessoas nos disseram sobre a intensidade e a positividade de cada emoção, dependendo se a lembrança era recente ou especialmente memorável.

1. O AWE permanece conosco, mesmo no cotidiano.
As pessoas se lembraram de suas experiências mais marcantes de deslumbre como intensas e positivas. Mas, curiosamente, até mesmo os momentos cotidianos de AWE foram lembrados como igualmente fortes e significativos.

Isso foi especialmente verdadeiro para o tipo inspirador de deslumbre — o chamado AWE positivo. Ao contrário do medo e do AWE ameaçador, cuja intensidade diminuiu em situações cotidianas, o positivo e o amor permaneceram consistentemente elevados.

2. Nem todo AWE é igual.
Como mostra o gráfico, o deslumbre positivo foi tão positivo quanto o amor. Já o AWE ameaçador foi lembrado como menos positivo — mas ainda assim, muito mais positivo do que o medo. Ou seja, mesmo quando o deslumbre vem acompanhado de medo ou perigo, as pessoas ainda o recordam como emocionalmente poderoso e mais inspirador do que assustador.

3. O AWE do dia a dia também é emocionalmente rico.
Muitos de nós presumimos que só os grandes momentos da vida têm o poder de nos tocar. Mas nossos resultados sugerem o contrário. O AWE cotidiano — como ouvir uma música que arrepia — pode ser tão significativo, intenso e emocionalmente recompensador quanto uma experiência única na vida.

POR QUE ISSO IMPORTA?

Compreender como diferentes formas de deslumbre são lembradas — e como se comparam a emoções como o amor e o medo — nos ajuda a entender como o AWE enriquece nossa vida emocional e influencia nosso bem-estar a longo prazo.

Mesmo quando vem acompanhado de ameaça, o deslumbre é frequentemente lembrado como algo profundamente recompensador, assim como o amor. Mais importante ainda, o deslumbre cotidiano pode ser uma força silenciosa, mas poderosa, que nos guia em direção ao significado, à conexão e ao encantamento — mesmo nos momentos mais comuns da vida.

Continue acompanhando a série e descubra como outras vivências também podem transformar nossa forma de sentir e perceber o mundo.

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